terça-feira, 30 de setembro de 2014

DIA 2 - CAMARGOS A SANTA BÁRBARA - 58 KM

ALTIMETRIA POR TRECHOS




Detalhes do Caminho

Camargos a Santa Rita Durão - A estrada é boa, inicialmente estreita ficando mais ampla após alguns quilômetros, com algumas subidas leves. No meio do percurso, passa-se por um povoado, Bento Rodrigues, com a Igreja do Rosário e algumas casinhas. Em Santa Rita, o aspecto pacato de cidade interiorana conta com belos exemplares da arquitetura colonial, como a capela de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.  

Santa Rita Durão a Catas Altas - O trecho montanhoso possui uma estrada construída em cima de uma montanha de minério que termina no povoado de Morro d'Agua Quente, com pouca infraestrutura turística. Aqui, no passado, haviam fontes termais que foram destruídas pelas escavações do ouro. Já ao final, a estrada conhecida como "Trilha Parque" possui boas condições, sendo larga e boa parte plana. Entre Morro d'Agua Quente e Catas Altas, o lugar é paradisíaco!


http://noscaminhosdeminas.blogspot.com.br/search/label/Estrada%20Real%20-%20Caminho%20dos%20Diamantes
Catas Altas a Santa Bárbara - Em Catas Altas, cidade rica em ferro, tem várias mineradoras que extraem o metal até hoje. O local possui um dos mais harmoniosos conjuntos de arquitetura colonial mineira, com igrejas, casarões, infraestrutura turística e uma maravilhosa vista da Serra do Caraça. Este trecho possui muitas curiosidades que encantam; deve cuidar para não se perder, pois há muitos desvios. Em um certo trecho, o caminho passará através de trilhos de trem, um túnel, terminando em dentro de uma fazenda. No marco 505, é obrigatória a parada para apreciar o Bicame de Pedra, um aqueduto construído em 1792, por escravos, com 4m de altura, onde suas pedras foram postas sem qualquer tipo de concreto. 



Próximo a Santa Bárbara, há uma trilha que impossibilita a passagem de carros... ali, apenas a pé, de bike ou a cavalo. Santa Bárbara, erguida as Margens do Ribeirão que leva o mesmo nome da cidade, é uma das cidades mais antigas de Minas. Daqui, diariamente partiam muitas tropas de Mulas. A cidade conta com igrejas, casarões coloniais e muita infraestrutura turística. 
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Diário de Bike

Hoje acordamos muito felizes num pedacinho do paraíso. Nosso 'despertador' foi daqueles que se sente: um delicioso cheirinho de café, recém passado naqueles coadores de pano, com um pão de queijo saindo do forno... tem como acordar de forma mais perfeita?




Dona Dica

Sr. Dario


A serração da madrugada foi tão forte que fez com que as roupas, que foram lavadas na noite anterior, ainda estivessem úmidas. Por isso, colocamo-as próxima ao fogão a lenha, para tentar secá-las.


Antes de partir, minha querida amiga Verinha, passou um tempo registrando a perfeição do local e conseguiu fotografar esta linda flor, com uma pequena abelhinha chegando bem na hora...


Tudo pronto, é hora de partir...


E agora nossas fotos by selfie's serão ainda mais divertidas, afinal, ontem ganhei aqueles extensores de minha querida amiga Vera...  

Adeus Dica e Dario, foi muito bom passar esta noite com vocês e obrigada por TUDO!


Seguimos para o centro deste pequeno distrito, com apenas 40 casas, onde há um Cruzeiro talhado em Pedra Sabão, único, um dos símbolos da Estrada Real e uma antiga igreja, datada da metade do século XVIII, com torres baixas, frontão triangular simples e uma escadaria que dá acesso a sua entrada. Neste momento ela está fechada para restauração. Paramos em frente para registrar nossa passagem.



O trecho aqui tem belíssimas paisagens e muita mata fechada, deixando o clima mais ameno. 






Há um rio que passa bem ao lado da estrada. Seguimos ouvindo o barulho da água e, vez por outra, passávamos por uma ponte de madeira.




Após alguns quilômetros e algumas subidas, é possível ver nosso próximo destino, após a próxima baixada. 


Adentramos então o pequeno distrito de Bento Rodrigues, pertencente a comarca da cidade de Mariana. No passado, este povoado foi  um importante centro de mineração. 



Aqui, paramos para nos reabastecer no bar ao lado da Igreja do Rosário. 



Enquanto descansávamos, chegou um senhor numa bicicleta tipo Barra Forte. Muito curioso, meu marido pediu para dar uma volta, visto que nunca tinha pedalado numa dessas. Maria também quis testá-la... rimos bastante da dificuldade que eles tiveram. O dono da bicicleta perguntou se queríamos a bike emprestada para seguir viagem e concluímos que não seria possível sequer sair do bairro com ela. 




Seguimos viagem, subindo, subindo... e novas paisagens foram surgindo... 


De repente, ao fundo, passamos a ver a belíssima e impressionante Serra do Caraça. Que visão! A serra tem esse apelido devido a sua forma, que lembra um gigante deitado (confesso não ter conseguido ver o tal gigante). Fiz milhões de fotos!







Conforme as horas passavam, começávamos disputar as 'sombrinhas' do caminho.


Na sequência, chegamos ao distrito de Santa Rita Durão, com o sol a pique. Por isso, decidimos fazer uma parada para um almoço no restaurante da Dica (não é a mesma Dica que dormimos, foi apenas uma coincidência). Enquanto eles finalizavam nosso almoço, aguardamos do lado de fora onde tínhamos a Igreja Ns. Senhora de Nazaré (Nossa Senhora do Rosário dos Pretos) a nossa frente







O almoço simples foi delicioso e providencial.



O distrito tem um 'filho ilustre', o frei José de Santa Rita Durão, nascido em 1720 e falecido em 1784, em Lisboa. Precursor da Literatura Brasileira, foi autor de um dos maiores poemas épicos brasileiros: 'Caramuru'. Postumamente, foi homenageado tendo sido Patrono da cadeira nº 9 da Academia Brasileira de Letras. 



Daqui, seguimos rumo a Catas Altas. A cada nova curva, uma bela paisagem se formava a nossa frente! A dificuldade era não parar a cada metro para fotografar tudo o que víamos, pois quanto mais próximos estávamos da Serra, mas linda ficava a paisagem!








Embora não tenha chovido nestes dias, há alguns trechos com lama e poças d'agua, o que conferem um ar de 'raly' a nossa aventura.


Após um pequeno trecho de asfalto, adentramos a Catas Altas, cidade fundada em 1702. Aqui, localiza-se uma Reserva Particular do Patrimônio Natural de nosso país. Este parque, além de proteger importantes cachoeiras, faz um belíssimo trabalho em relação a fauna, em especial, com lobo-guarás. Li em uma matéria na revista Bicicleta que a noite, no Santuário do Caraça, lobos aproximam-se em busca da refeição noturna entregue pelos religiosos que moram por ali. Para quem se hospedar no parque, é possível assistir este emocionante momento. Infelizmente já havíamos definido nosso roteiro quando soube disso, mas repasso esta informação para quem puder dormir por aqui, a fim de ter este privilégio que não tivemos. 

Bem próximo ao centro da cidade aproveitamos para fazer mais uma fotinha em um marco, agora, com a Serra da Caraça ao fundo...


A Igreja Matriz Ns. Senhora da Conceição, localizada na praça central, é um dos mais importantes templos mineiros devido a guardar documentos de celebração do primeiro batismo na capela, datado de 1712.



A visão que se tem da cadeia de montanhas, do lado oposto a igreja, é impressionantemente linda! 


Aproveitamos para nos reabastecer aqui na cidade antes de seguir viagem. 


Fazer o Carlão não sair fazendo careta numa foto é uma tarefa IMPOSSÍVEL! hehe
Após uma longa descida, lembrei-me que não tínhamos pegado o carimbo daqui. Paramos, peguei o manual, e descobri que haviam em três lugares: Centro Turístico (provavelmente fechado por ser dia 24/12), um restaurante e uma pousada. Decidimos permanecer onde estávamos (Maria, Zé, Vera, Claudinha e eu), enquanto Filipe e Carlão voltariam nos respectivos lugares para pegar o carimbo de nossas credenciais. Fizemos até umas fotinhas enquanto aguardávamos. 



No entanto, estes dois não voltavam nunca! Passaram-se 40 minutos e nada. Começamos a tentar imaginar o que poderia ter acontecido... será que eles caíram? Se perderam? Pegaram um atalho e, sem ter compreendido que esperaríamos aqui, seguiram sem nós? Tudo parecia absurdo, mas enfim, tínhamos que pensar em alguma coisa. Decidi sair em busca deles... mas, ao pé do morro que teria de subir até o centro da cidade, encontro um rapaz que vinha de lá. Perguntei a ele se havia visto dois 'mocinhos indefesos' perdidos e ele me disse que sim, que estavam andando de um lado para outro lá em cima... como descobri que estavam bem, decidi voltar e esperar. Uma hora depois, voltam os dois, com um sorriso daqueles, nos explicando que todos os locais estavam fechados. Por isso, começaram a visitar outros lugares para tentar qualquer tipo de carimbo. Para isso foram na delegacia (que carimbo eles achavam que iriam encontrar lá  ?????), mercadinho, farmácia, etc. Acabaram conseguindo o carimbo de CNPJ na farmácia. (No fundo, descobrimos que eles estavam apostando corrida nas subidas e descidas que fizeram sem nós, os 'rodas presas').

Seguimos em frente, todos juntos, e começamos a enfrentar algumas subidinhas boas...


Mas ao término de cada top, encontrávamos um novo paraíso. 


Após atravessarmos um túnel, fazer uma voltinha de 90º, passamos a pedalar ao lado de uma via férrea. 


E na sequência chegamos a uma fazenda. Agora compreendi o porque no manual dizia que deveríamos ter muito cuidado para não nos perder por aqui. Ficamos tão maravilhado com o que víamos que deixamos de prestar muita atenção ao mapa...









Após o marco 505, chegamos ao famoso monumento "Bicame de Pedra", um audacioso e imponente projeto de engenharia do século XVIII. Todo construído em quartzito, sua finalidade era levar água do córrego Quebra-Ossos às fazendas de minerações existentes na região. Atualmente existe apenas 150m de construção, dos talvez 18 km que houveram um dia. Na parte central, possui um portal e uma inscrição de construção - 1792. Incrustada em sua lateral, há uma escadaria de pedra que dá acesso a parte superior do aqueduto. É realmente impressionante!







Depois de algumas fotos, seguimos por uma estrada de terra, sem grandes subidas, assistindo ao 'cair do dia'. 



Embora ver o sol se pôr seja um momento romântico, para nós não era tanto assim... Vera, Zé e Claudinha já sentiam-se bem cansados e ainda faltavam uns 13 km para chegarmos a Santa Bárbara. Em certo momento, chegamos num ponto onde devíamos seguir a esquerda, por uma estrada de terra, até a cidade ou tínhamos uma alternativa: seguir em frente e sair na rodovia estadual que chegava a cidade por asfalto. Rapidamente, Carlão comentou que achava prudente que seguíssemos pela rodovia, apoiado por Claudinha. Eu não concordei, mas preferi ficar calada, afinal, se insistisse em seguir pela estrada de terra e fosse muito difícil, me sentiria culpada. Muito contrariada, seguimos em direção a rodovia.  Mais tarde, quando li alguns relatos sobre este trecho, compreenderia que a decisão tomada foi a melhor, pois havia uma trilha de difícil acesso até a cidade onde não é impossível trafegar carros... 'apenas pessoas a pé, de bike ou cavalo, conseguem passar por ali'... ou seja, cansados e no escuro teria sido muito mais difícil (bendita boquinha fechada, hehe).

A chegada a Santa Bárbara se deu de forma tranquila. O trecho em rodovia foi de apenas 10 km. Após uma pequena subidinha em paralelepípedo, chegamos a matriz e o hotel localizava-se exatamente na frente. O hotel possuía um certo requinte, bem diferente do lugar onde dormimos na noite anterior. Apesar de muito confortável, senti saudades do aconchego da pousada da Dna. Dica. 


E já que não tínhamos lavanderia ou varal, foi hora de improvisar um dentro do quarto... 


Após o banho, seguimos procurando um lugar para jantar... só tinha um pequeno detalhe: em plena noite de natal, 24/12/14, esta tarefa não seria tão simples assim...



Após caminhar por todo o centro, sem encontrar nada aberto, decidimos pedir ajuda... foi ai que passou esta linda família e, de forma muito prestativa, ligaram para vários lugares, pizzaria, restaurantes, lanchonetes, até encontrar uma que estivesse aberta para poder nos indicar... ô povo prestativo 'sô'! Obrigada meus queridos...


Seguindo as indicações do casal, chegamos a Pastelaria Nota 10 para 'jantarmos'... pegamos o cardápio e quando havíamos definido as opções que cada um iria comer, ele nos avisou: ahhhh, só tem de queijo e carne! rsrs. Após redefinirmos as opções, aguardamos os pastéis sentados no chão, conversando, rindo, bebendo nossas cervejas e, na sequência, degustando nossos deliciosos pastéis... 



Ao retornarmos para o hotel, fizemos mais uma foto nesta fresca e agradável noite. 


Antes de entrar no quarto, fizemos a última fotinho do dia junto às namoradeiras do hotel (olha a 'cara' de cansada da pessoa). 


E assim terminou mais um dia perfeito do nosso Caminho dos Diamantes...
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Reserva confirmada em Hotel Quadrado - recomendado
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R$ 75,00 com café da manhã

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Fonte de pesquisa:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caramuru_(livro)
http://www.oswaldobuzzo.com.br/Home/2009---estrada-real---caminho-dos-diamantes
http://www.revistabicicleta.com.br/bicicleta.php?ver_sentir_e_ser_caminho_dos_diamantes_minas_gerais&id=4503

Fotografia:
Claudia Jak
Maria Mendes
Vera Marques

2 comentários:

  1. Adorei!!!!! Um texto muito gostoso de ler e uma seleção de fotos belíssima.

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  2. Uma pena Bento Rodrigues ter sido "riscada" do mapa da ER. Quando por lá passei, em junho 2014, percorrendo a ER entre Conceição do Mato Dentro (MG) e São Lourenço (MG), era um local bucólico e aprazível.

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