terça-feira, 30 de setembro de 2014

DIA 5 - ITAMBÉ DO MATO DENTRO A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO - 58 KM

ALTIMETRIA POR TRECHOS



Detalhes do Caminho

Itambé do Mato Dentro a Morro do Pilar - Serão várias descidas intercaladas com alguns trechos de subidas e pouca sombras, principalmente entre os marcos 368 e 379. Aqui passará por Duas Pedras, com uma beleza singular; no marco 377 terá a vista do Travessão, localizado no Parque Nacional da Serra do Cipó, caracterizado como um importante divisor natural das bacias do Rios São Francisco e Doce. 


Chegando a Morro do Pilar, a estrada seguirá margeando o Rio do Peixe, formando um belo cenário, principalmente por sua cor, preta. Em Morro do Pilar existem várias quedas d'agua que valem a pena visitar!

Morro do Pilar a Conceição do Mato Dentro - Após o marco 355 é possível avistar a Serra do Espinhaço, o que garantirá uma paisagem lindíssima! 


Caracterizado por subidas íngremes, o trecho passará por algumas partes de mata fechada, o que ajuda a pausa para o lanche e descanso. A cidade de Mato Dentro tem várias igrejas magníficas, contando também com antigos casarios coloniais. Mas o lugar reserva ainda mais surpresas com o fascinante Salão de Pedras, Colina da Paz e Lagoa Azul. 



Também reserve um tempo para conhecer a cahoeira do Tabuleiro, a maior do Brasil com seus 273m de queda livre, a 19km da cidade. Quem quiser visitar a cachoeira a partir de Conceição, e não estiver em condições de pedalar ou caminhar, há possibilidade de ir de ônibus ou táxi. Segue os horários que me passaram: Seg. Qua. e Sex. 15h; Sáb. 14h; táxi entre R$ 70,00 ou 80,00. (O único detalhe, é que o ônibus vai para lá uma vez por dia, por isso, é necessário dormir na pousada Tabuleiro ou voltar de táxi)


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Diário de Bike

Embora a pousada seja super confortável, não dormi tão bem esta noite. Quando me levantei, me sentia muito cansada. Mas, quando estamos em cicloviagem, a única coisa que podemos fazer quando estamos cansados é pedalar mais devagar... 

Assim que saio do quarto, vejo Vera e Zé vestidos com equipamento de ciclismo... olho para ela com aquele olhar de: 'E ai???' ao que ela me responde: 'Vamos continuar!' Abraço ela e me sinto feliz por isso... Com certeza, deixá-los para trás, me daria a sensação de estar deixando também um pedacinho de mim. Tomamos o nosso café da manhã bem completo, preparado com muito carinho por nossa anfitriã, Nívea, com direito a frutas, iogurtes,  pães, sucos, etc. 





Tudo pronto, partimos em busca das próximas aventuras. 


Havia uma longa descida até o centro da cidade... por isso, queria garantir que estávamos no caminho certo, afinal, se tivéssemos que voltar, seria subindo. Passei por uma senhora, em frente a igreja Universal. Sem descer da bike, apenas passando bem lentamente por ela, pergunto: 'Bom dia, onde fica a igreja daqui?' Como minha pergunta era bem 'aberta' ela responde: 'Aqui!' Bom, melhorando minha pergunta, complemento: 'Não, não... preciso saber onde fica a Igreja Matriz.' Ela se vira, fingindo não ter me ouvido e segue caminhando... ok, ok, sem problemas... 
Mais a frente, havia um senhor parado em frente a sua casa... desta vez, faço a pergunta certa: 'Bom dia, onde fica a Igreja Matriz?' Ao que ele me responde: 'Daqui?'                Como assim 'daqui'???? É claro que é daqui, de onde mais seria... Com uma cara de interrogação respondo: 'Sim, daqui'... ele aponta, com suas mãos, sempre em frente. Agradeço e sigo pedalando, ainda sem entender o: 'Daqui?'... 
Bom, passamos pela Igreja e agora precisamos encontrar a Rua do Rosário. Como alguns de nós precisa calibrar o pneu, paramos num posto e aproveito para  perguntar ao frentista: 'Onde fica a Rua do Rosário?' Advinha qual foi sua resposta: 'Daqui?' Nãoooooooooo, da cidade vizinha!!! Meu Deus, eles estão me testando? Rindo eu respondo: 'Sim, meu senhor, é exatamente aqui na sua cidade que há uma Rua do Rosário e precisamos seguir por ela, sabe onde fica?' adivinhem onde era... bastava seguir em frente. 


Decido não pedir mais nenhuma informação e tentar me virar sozinha com o mapa... mas agora estava fácil, era só desbravar as montanhas a nossa frente, subindo e apreciando a paisagem. 







A cada metro que subíamos, eu via uma 'foto' diferente na paisagem... era inevitável parar, a fim de registrar. 



Após alguns quilômetros, percebemos que nossos amigos haviam ficado para trás. Por isso, paramos e puxamos conversa com um senhor que estava na frente de sua casa. Após alguns minutos, olhei em volta e vi uma foto perfeita! Pedi para fotografá-lo e, antes que me dissesse que não, saquei a máquina e cliquei. Que foto magnífica... 


Logo nossos amigos chegaram e seguimos todos juntos... subindo, subindo... 





A subida estava difícil para Verinha, Zé e Claudinha... foi justamente nesta hora, que o primeiro 'salvador'' do dia surgiu em seu belíssimo cavalo branco, ou quase isso... Ele ofereceu uma pequena carona a eles, que foi muito bem vinda! 



Fiquei tão feliz! A carona foi curtinha, por uns 5 km no máximo, mas pelo menos os deixou em um ponto mais plano. 



Seguimos em frente pedalando e 'clicando' as belas memórias, de toda a beleza a nossa volta. Sinceramente, acho que hoje tem sido um caminho lindo e quase me arrisco dizer que é o trecho mais bonito até aqui. 












O guia de viagem dizia que, neste trecho, haveria duas pedras de beleza singular. Acho que é uma boa descrição, afinal, elas são mesmo lindíssimas! Por isso, aproveitamos para fazer muitos click's por aqui...  






Á partir daqui, pegamos uma longa descida, com algumas pedras, buracos e cascalho. 



Mas, como tudo o que desce um dia sobe, as subidas voltaram a aparecer, sem piedade. 



Nossos companheiros de viagem estavam sentindo o cansaço desta empreitada. E novamente surgiu mais um 'salvador'. Desta vez, seguiria até Morro do Pilar. Eles aproveitaram para nos dar uma grande ajuda também, afinal, levaram nossos alforges. Em Morro do Pilar eles planejavam pegar outra carona até o destino final, Conceição do Mato Dentro. 

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Segue a narração de minha querida amiga Vera, referente ao que passou a seguir:


'Após alguns quilômetros, surgiu naquela estrada deserta uma bela Hilux. Não acenamos pois  tínhamos decido pedalar até as 13hs. Mas ao passar pela Claudinha a caminhonete parou. O casal perguntou se queríamos carona até Morro de Pilar (quem realmente se sensibilizou com nossa situação foi a esposa, Adélia). Claudinha aceitou e nos chamou... decidimos acompanhá-la. 

O senhor que dirigia não fez qualquer movimento e mal nos cumprimentou. Pensei comigo - hoje D. Adélia vai levar bronca! Colocamos rapidamente as bikes na traseira da camionete, que teve de seguir com a tampa aberta, e partimos. A estrada era cheia de buracos, subidas e descidas. O Sr. X, dirigia como se não estivéssemos lá. Em alguns momentos, literalmente pensei que fossemos cair lá de cima. A cada subida, nossas bikes pareciam escorregar das mãos. O esforço para segurar as bikes foi tão exaustivo, que cheguei a me arrepender de termos aceito a carona.  

Chegamos enfim a Morro do Pilar. Entramos num restaurante em busca de informações e foi fantástico!!! Lá encontramos tudo o que precisávamos - o carimbo do passaporte, uma comidinha mineira e a informação de que Sr. Jésus nos levaria até Conceição. As 13h30min, como havíamos combinados por telefone, surge Sr. Jésus, um mineirinho típico, de poucas palavras, mas de uma eficiência impressionante. Tratou nossas bikes com o maior carinho, acomodando-as com maestria. 


Seguimos viagem tranquilamente. De repente, nosso bondoso motorista fala baixinho que caso quisemos, ele pararia para uma bela foto, num lugar muito bonito. Rapidamente aceitamos e realmente, o lugar é de tirar fôlego!






O trajeto de 27 km foi percorrido lentamente, pois as condições da estrada não eram favoráveis. Após 1h30 de viagem, chegamos a Conceição do Mato Dentro e esperamos por nossos amigos.'
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Maria, Carlão, Filipe e eu seguimos pedalando. Sem alforges, pedalávamos muito mais rápido! Só sentiamos uma certa dificuldade nas descidas que, por incrível que pareça, com alforges é mais fácil e estável








O caminho era divino! Uma bela paisagem, morros e montanhas no horizonte. Mas constantemente estávamos subindo e descendo... nem uma reta sequer. E acredito que tenhamos cometido um grande erro. Sem eles e alforges, aumentamos muito o nosso ritmo, mas isso nos quebrou. Quando chegamos próximos a Morro do Pilar, o sol e o caminho estavam extremamente desgastante. Chegamos até a parar, numa corredeira, para comer e descansar. 






Após uns 30 minutos de pausa, seguimos caminho. Maria e eu começamos a ficar para trás e a empurrar em algumas subidas. Deixei até de fotografar embora as paisagens continuassem lindas!

Quando chegamos a Morro do Pilar estávamos mortas. Para chegar ao centro da cidade, era necessário subir uma pirambeira imensa. Sentamos no chão, em frente a uma casa. O dono logo saiu e nos perguntou se queríamos água, que foi imediatamente aceita. Após alguns minutos, seguimos empurrando até a Matriz. Perguntei a Maria como ela se sentia... ela deu aquela risada e disse: 'Estou morta Clau...' 

Fomos a uma mercearia e compramos uns sorvetes, gelo e água. Sentamos nos bancos da pracinha, na sombra das árvores, e não tínhamos ânimo sequer de conversar. Até que chegou um bêbado e não sei porque razão Maria desandou a conversar com o tal homem. Era só risada. Depois de algum tempo, olhei para eles e perguntei: 'E ai, como faremos para seguir por mais 27 km neste 'pique'?' Filipe e Maria permaneceram calados... 

Decido tentar descobrir se também é possível que consigamos uma carona... Converso com um, com outro, mais outro e nada. Ninguém tinha condições de fazer este 'carreto' para nós. A única pessoa na cidade que poderia ir, não estava aqui no momento e eles não sabiam que hora chegaria. Olhei para Maria e disse: 'Má, são só mais 27 km, agente dá conta! Vamos...'

Partimos junto com Carlão que parecia estar ótimo! Acho que era o único de nós quatro que estava super bem. Filipe conseguia pedalar em todas as subidas, mas estava com uma cara terrível... Maria e eu empurrávamos nas subidas e só sentávamos na bike durante as descidas. Após 10 km, eu já não aguentava mais. Olhava para Maria e me dava desespero, pois também estava mal. E para ajudar, não passava nenhum carro sequer. De repente, no meio de uma subida terrível,  descia uma caminhonete em nossa direção. Entrei na frente e pedi que parasse. Fui até a janela e perguntei: 'Sei que está vindo no sentido oposto, mas será que o Sr. não poderia voltar até Conceição para nos levar?' Ele ri e nos conta que acabou de deixar nossos amigos por lá... exatamente, era o Sr. Jésus. Combinamos de pagar o valor de R$ 200,00, que achei um absurdo na hora, mas pelo tamanho do meu cansaço, não tinha como barganhar. Carlão agradeceu a oferta de seguir de carro, mas decidiu ir pedalando. Ficamos preocupados, mas ele realmente estava bem. Fui fazer uma foto das bikes sobre a caminhonete e descubro que meu cartão de 16GB está cheio. Acho que isso me deixou mais 'acabada' do que o cansaço em si. Entrei triste na caminhonete pensando que tenho, em algum lugar dentro dos meus alforges, mais um cartão de 4GB e mais 3 dias de viagem pela frente, ou seja, terei que fazer menos fotos. 

Os próximos 17 km teriam sido muito difíceis! Haviam muitas subidas e algumas decidas com tantos buracos e erosões, que temi imaginar que poderíamos ter caído ali visto que, quando estamos muito cansados, temos a tendência de deixar a bike descer sem freios para tentar aproveitar o máximo do embalo. Jésus perguntou se queríamos parar em algum lugar para tirar fotos e eu rapidamente digo que NÃO, afinal, não tinha espaço em meu cartão de memória, nem disposição para sair do carro. 

Quando chegamos na pousada, olhamos uns para os outros e o sentimento era o mesmo: a carona valeu cada centavo! Fomos sentados na frente, junto com Sr. Jésus e, por isso, estávamos tão exprimidos que nos deu uma crise de risos. Quando a caminhonete parou era quase impossível sair, visto que nossos músculos encolhidos não compreendiam que já podiam se esticar novamente. O Filipe fez um pequeno filme de nossa chegada, por isso, consegui captar uma imagem.



Após nos despedir de nosso caroneiro, seguimos até a recepção do local. Lá, encontramos um senhor, não muito simpático, que nos disse onde ficaríamos. Quando fui perguntar sobre a piscina, que eu estava ansiosa para conhecer, ele me disse que não estava em condições visto que uns 'jipeiros', do dia anterior, haviam feito muita bagunça e a deixaram muito suja. Fiquei muito irritada, pois escolhi o lugar pelo fato de oferecer sauna, piscina e ar condicionado... mas enfim... 

Quando entramos no chalé, estava uns 40 graus lá dentro e havia um trilhão de formigas num cantinho do quarto. Quando fomos reclamar, ele nos deu um inseticida e disse que teríamos que ficar neste quarto mesmo, pois não havia outro arrumado... decepção total... 

Logo Claudinha, Zé e Verinha ouviram nossas vozes e vieram nos dar um abraço. Eu estava péssima! Ligamos o ar condicionado no máximo e tomamos um banho.  Lavei as roupas e pendurei num varal improvisado por Filipe. 


Como Filipe estava muito calado, percebi que não estava bem. Perguntei qual era o problema e ele respondeu não estar gostando do 'rumo' da viagem. Perguntei se queria parar aqui, mas ele apenas se calou, se ajeitou na cama e rapidamente dormiu. Conclui que ele estava cansado e precisava de um tempo. Deixei-o no quarto e fui sentar lá fora com meus amigos... 


Carlão rapidamente chegou. Peguei os mapas, como faço todos as noites, para avaliar o dia seguinte. Mas quanto mais eu olhava, mais confusa ficava. Claudinha disse que haviam pegado o carimbo em Morro do Pilar e me perguntou se também pegamos. Eu disse que não, pois no guia não têm informações sobre carimbo ali na cidade e, embora tenha visto que em Conceição haveria, não tenho a mínima vontade de ir até lá pegar. Comento com eles que me sinto desanimada... quando eles percebem isso, rapidamente assumem as posições de bons amigos, dizendo que tudo vai dar certo e que ficaremos bem! Comento sobre meu cartão de memória e Claudinha prontamente oferece o dela, que praticamente não tem usado. Quando pergunto sobre o jantar, Claudinha levanta-se e pega com o gerente dos chalés o telefone de um restaurante e Verinha liga solicitando. Em pouco tempo chegam nossas comidas. Filipe, Maria e eu pedimos marmitex e o restante pediu pizza. Por sorte haviam cervejas bem geladas na pousada. Sinceramente, depois do jantar, até me senti bem mais animada!



Seguimos para o Chalé que, pra nossa alegria, agora estava bem fresquinho. Hoje Maria ficará hospedada conosco. Deitamos e rapidamente pegamos no sono. 

Apesar das dificuldades, poder contar com nossos amigos neste momento foi para mim muito importante! Posso dizer, com certeza, que se estivéssemos apenas Filipe e eu, provavelmente teríamos parado por aqui. Por isso, só tenho agradecer por toda a parceria, carinho, amizade e ânimo concedido neste dia!
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Reserva confirmada na Pousada do Lago 
Fone - 31.3868-2424
R$ 90,00 com café

http://feliepe.wix.com/pousadadolago

Um comentário:

  1. Realmente foi um trecho difícil. Na nossa carona eu ficava olhando as condições da estrada e pensava " meu Deus faça com que tudo corra bem com o pessoal " E torcia muito por vocês. Foram os 27 km mais difíceis.

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